colunista do impresso

A pandemia e o casamento


style="width: 100%;" data-filename="retriever">A pandemia vem mexendo com as relações afetivas, em particular com o casamento. Neste confinamento, convivi, virtualmente, com casais que se consolidaram, com alguns que anteciparam a data do casamento, outros que postergaram, tem os que enviuvaram, e os que separaram.

Vi o que queria e o que não gostaria. Falei com casais de diferentes idades e tempo de relação, presenciei papos maduros e estabanados. Soube de demonstrações de amor e gratidão emocionantes, como tomei conhecimento de comportamentos irreconhecíveis para os autores.

Neste embrulho, três fatos me intrigaram pelo ineditismo ou excentricidade. Compartilho-os na ordem em que chegaram ao meu mundo.

O 1º em maio. Fui convidada para a Feira de Separação. Sim! Isto mesmo. Um casal amigo com problema de dividir as coisas ao separar-se, fez a feirinha dos pertences convidando os amigos para comprarem coisas que lhes diziam respeito. Curiosa, li o catálogo. Constatei móveis, objetos indescritíveis específicos da (ex) relação, roupa (inclusive cama, mesa, e banho), foto, e uma infinidade de itens esperando interessado.

O 2º em julho. Uma amiga aprovada num concurso público foi para Jaguarão. Lá conheceu um uruguaio há 8 anos. Esta moça mandou-me pelo correio uma caixa, branca estampada com corações entrelaçados, fechada com tope de fita na cor verde, dentro de uma caixa amarela de Sedex. Mergulhada na curiosidade abri a caixa, e encontrei um álbum com fotos dela e do uruguaio vestidos de noivos. Cansados de esperar, resolveram casar-se. Foram à igreja, ao cartório, ao restaurante, se fotografaram, e selaram a sós a promessas de amor eterno.

O 3º em novembro. Uma colega de pesquisa e projetos de gerontologia, amiga há 30 anos, residente em Campo Grande, professora universitária, teve Covid. O marido cuidando-a pegou a doença, foi para UTI e à óbito. Preparavam os 50 anos de casados para março. Eu acompanhei-os virtualmente durante a enfermidade, até o dia em que ela me escreveu: hoje, meu sempre e eterno amor faleceu, às 12h. Está com Maria e Jesus cuidando de nós. Estou tão triste que não sei o que sinto. Amém.

Estes fatos me levam à analogia: a dor de separar da pessoa amada e dos objetos da relação [rolha, foto, flor seca, palitinho, guardanapo, chaveiro, cartão de hotel, guia de viagem,...] são como cortes de papel, podemos colá-los, mas não constituímos a folha.

O lockdown da pandemia foi o catalisador para consolidar ou findar relações, já que muitos desconheciam a rotina da sua casa, e o trabalho remoto somado a tarefa doméstica não poupou, escancarou relacionamentos, consolidou umas coisas, mostrou outras que não combinavam mais, irritou, aproximou, afastou, e a enxurrada de solicitações aumentou a demanda de exigências do amor.

Caro leitor, a pandemia tocou sua vida afetiva?

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Vereador levanta a bandeira da diversidade na Câmara Anterior

Vereador levanta a bandeira da diversidade na Câmara

Ainda há tempo Próximo

Ainda há tempo

Colunistas do Impresso